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Edição 648

Crónica: Unidos pelo populismo

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A Câmara Municipal da Trofa decidiu, e a meu ver muito bem, fazer uma limpeza nas margens do Rio Ave, junto ao Parque das Azenhas. Uma operação de rotina, como tantas outras, que faz parte do dia-a-dia de qualquer autarquia, a quem cabe a responsabilidade de garantir a manutenção e a limpeza de todos os espaços públicos do concelho.
Todos os dias, em todas as freguesias, funcionários da autarquia e das juntas asseguram a manutenção da via pública, de espaços ajardinados e de equipamentos que são de todos, entre muitas outras coisas. Todos os dias, sem excepção, vemos estas pessoas na rua, a garantir que as fossas não entopem, que as flores são regadas e que o lixo não se acumula na beira dos passeios. Fazem o seu trabalho, que salvaguarda uma importante parte da qualidade de vida de todos os trofenses, e regressam a suas casas, confinados ao mesmo anonimato em que saíram de manhã, bem cedo.
Coisa diferente acontece quando um político entra na equação. Porque se o político decide dar o ar da sua graça, mesmo que seja apenas para acompanhar os trabalhos, enquanto fuma um cigarro e conversa com outro político sobre o jogo do futebol ou sobre a jantarada do dia anterior, em nada contribuindo para as tarefas rotineiras dos seus subalternos – até porque não lhes compete executá-las – há algo que muda. E esse algo, um detalhe tão subliminar quanto relevante, e que tal aparição resulta num acto de autopromoção, de propaganda política ou de uma mistura de ambos. E, garantidamente, haverá um fotografo da autarquia, pago pelos nossos impostos, para garantir que o ego do senhor doutor é massajado e a sua atitude heroica divulgada através dos canais de comunicação da autarquia.
Se o vereador Sérgio Araújo quer calçar umas galochas para tirar fotografias com um tronco na mão, para que o mundo saiba que o senhor doutor é um homem que arregaça as mangas para trabalhar, é lá com ele e com o estratega que eventualmente lhe terá sugerido tal encenação, que de resto é de natureza partidária e nada tem que ver com a sua função, aquela para a qual lhe pagamos. E pode fazê-lo, com toda a legitimidade, na sua página pessoal, que é o local certo para o efeito. Usar a página da autarquia, porém, configura um acto de populismo, que se reveste de particular superficialidade.
Ainda que se tratasse de um acto altruísta, até porque limpar o rio não faz parte das funções do vereador, da mesma maneira que não compete a um cantoneiro tomar decisões estratégicas sobre a gestão ambiental do concelho, o senhor vereador ter-se-ia deslocado até ao Parque das Azenhas, calçaria as suas galochas, carregaria os troncos que entendesse que deveria carregar e voltaria para casa, ou para o escritório, sem ter a necessidade de levar consigo um fotógrafo da autarquia, que não apareceu ali por acaso. Até porque um funcionário da autarquia, pago por todos nós, não é nem pode ser pago para gastar o seu tempo promover a pessoa do vereador nas redes sociais. Nem as redes sociais da autarquia servem para destacar actos populistas de responsáveis eleitos que querem aparecer.
Tudo isto é triste, mas não surpreende. São práticas a que nos fomos habituando ao longo dos anos, e que têm no presidente Sérgio Humberto um exímio executante, não só no que diz respeito à utilização de recursos públicos em benefício próprio, como no uso e abuso do populismo mais bacoco. E se a coisa funciona e a malta não se importa, para quê mudar de estratégia?

João Mendes

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