Crónicas e opinião
Carta ao Pai Natal
“Como deves imaginar, escrevo-te para te pedir algumas prendinhas. Mas as prendas não são para mim. São para a Trofa.”
Querido Pai Natal,
Bem sei que já não estou em idade de acreditar em ti. Mas num país em que tantas pessoas acreditam que um populista impreparado, que tem como referência alguns dos políticos mais corruptos do mundo, pode ser solução para os nossos problemas colectivos, acreditar no Pai Natal não me parece assim tão grave.
Vamos, então, ao que interessa: como deves imaginar, escrevo-te para te pedir algumas prendinhas. Mas as prendas não são para mim. São para a Trofa. Porque a Trofa é um belo concelho, uma bela terra com gente do melhor que há, mas com algumas carências com as quais talvez nos possas ajudar.
A primeira prenda que te quero pedir é que nos envies alguém capaz de efectuar umas boas obras no Aquaplace, a nossa academia municipal. Não faz sentido que, ano após ano, os baldes se multipliquem pelo chão a cada Outono, para amparar a água que cai do tecto, e que os utilizadores continuem a levar com morrinha de gotas de suor em algumas salas de aulas colectivas. Além disso, não faz sentido que os balneários das crianças continuem a ter apenas 4 chuveiros, obrigando os miúdos a ficar em fila, cheios de frio, nas horas de maior afluência.
Bem sei que já se fizeram várias obras naquele espaço, mas os problemas permanecem. Vê lá o que podes fazer.
A segunda prenda que te quero pedir é mais Cultura. Assim, com C maiúsculo. A Cultura, como sabes, tem sido um dos parentes pobres do nosso concelho, o que força muitos trofenses a procurá-la nos concelhos vizinhos. E já é tempo de termos uma agenda cultural que reflicta a grandiosidade do nosso concelho. Que não fique refém de meia-dúzia de eventos anacrónicos e mal publicitados. Os trofenses querem e merecem mais cultura. Tens por aí alguma coisa que possas enviar pela nossa chaminé abaixo?
Como complemento à prenda anterior, gostava também de te pedir uma estratégia de dinamização da nossa cidade, vilas e aldeias. É que as ruas estão cada vez mais vazias, e o concelho é cada vez mais um dormitório gigante. E nenhum trofense quer isso. Portanto, se não te causar transtorno, junta ao embrulho da Cultura algumas ideias para dinamizar o território, o comércio local e o associativismo. Ainda vamos a tempo de inverter o paradigma.
Há outras coisas que te queria pedir, como algumas obras em estradas degradadas, ou melhor iluminação na via pública, mas já te pedi muitas coisas e ainda tenho mais uma para te pedir: transparência.
Durante anos, a transparência foi por cá muito maltratada. Ajustes directos por encomenda, concursos públicos viciados, contratação baseada em cartões partidários e outros favorecimentos dignos de um país de terceiro mundo, dos quais imagino que já terás ouvido falar. Toda a gente ouviu, embora muitos prefiram assobiar para o lado.
Houve até um ano, como te lembrarás, seguramente, em que ficamos sem iluminação de Natal porque uma empresa do ramo começou a instalar as iluminações ainda o concurso não estava concluído. Por isso, agora que temos um novo executivo, sem as caras de má memória, faz o que puderes para que os erros do passado não sejam repetidos no presente e no futuro. Bem sei que não é prenda fácil para os elfos e os duendes que trabalham para ti, mas tenho muita fé que serás capaz de nos dar uma forcinha.
E pronto, é isto que tenho para te pedir. E nem foi assim tanta coisa, pois não?
Vê lá o que podes fazer por nós.
Desejo-te um Feliz Natal, a ti, aos teus elfos e duendes, e, acima de tudo, aos meus conterrâneos trofenses, em particular aqueles que me aturam há mais de 10 anos nas páginas deste jornal.
E, já agora, um 2026 com muita prosperidade, saúde e amor para a nossa Trofa e para todos os seus filhos e filhas.
Boas festas e muito obrigado a todos os que estão desse lado.
Artigo de opinião de João Mendes


