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Crónicas e opinião

S. Gonçalo – uma das imagens de marca do concelho da Trofa

“Muitos de vocês, certamente não conseguem imaginar o mês de janeiro sem esta festividade, numa salutar combinação entre o profano e o católico em que o povo acolheu este seu ícone e traduziu estas festividades num dos expoentes de bairrismo, paixão e sobretudo de dedicação à sua terra”

José Pedro Reis

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Se me permitem começar mais uma crónica, mas, desta vez com uma razão mais sentimental, às vezes sabe bem massajar o nosso ego. E não é que, numa das muitas conversas que habitualmente temos com amigos e conhecidos, um deles se sai: “A minha mãe lê as tuas crónicas e gosta muito…”. Numa época em que o elogio é algo raro e a crítica é sempre o caminho mais fácil e na grande maioria das vezes injusto, receber aquelas palavras é reconfortante para continuar a escrever mais crónicas.

Há já algum tempo que neste nosso território, temos vindo a discutir ou pelo menos tentar discutir por uma maioria a construção de uma identidade, a valorização de um território e sobretudo das suas gentes que tanto deram a este território e que serviram de retaguarda aos movimentos políticos. Sejamos francos: se a Trofa tudo conquistou deve-o sobretudo ao seu bairrismo.

Os movimentos políticos apenas serviram para incorporar esse bairrismo e dar “corpo” a algo que todos sentem, todos defendem, mas tem a plena noção que precisam que esta aliança seja efetivada.

Uma postura rara quando estamos apenas a 20 quilómetros da cidade do Porto e poderíamos ser facilmente engolidos por uma cultura de massas que arrasta e leva tudo consigo. Tudo se torna igual, perdemos a capacidade de ser diferente e interventivo.

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Atendendo ao título desta crónica em que é evidente a sua preocupação e atenção em focar a capela de S. Gonçalo na freguesia de Covelas, é óbvio que esta é um dos marcos dos nossos territórios. Na verdade, assumo a minha ignorância quando era mais novo, na altura em que comia caramelos como quem comia trigos e nos primeiros fins de semana de janeiro ia atrás de uma multidão rumo àquela freguesia.

Ficando cada vez mais contente no decorrer do percurso quando via os cavalos e depois se aproximava o cheirinho aquela “rejoada” que era o repasto quer para o corpo como também para a alma.

Pensava que aquela Capela de S. Gonçalo era também a Igreja Matriz da localidade, tal era o fervor que via as pessoas a participar naquelas atividades, a devoção que tinham por aquela imagem e sobretudo os milhares de pessoas que se faziam deslocar até aquele espaço, onde, na minha inocência, bastante reguila, deveria ser o único templo da freguesia. Mais tarde descobri que era “apenas” um dos templos.

Por vezes, o simples torna-se belo e a capela de S. Gonçalo é sinónimo disso mesmo, sem grandes pormenores, mas sempre simples e bela. A sua data de construção é desconhecida, mas isso não diminui a sua importância histórica. Embora nas Memórias Paroquiais de 1758 se escreva nas Memórias Paroquiais que a 28 de janeiro ocorria algum povo.

O termo “algum povo” deve ser interpretado de forma relativa, até porque investigações anteriores trouxeram alguma clareza sobre estas festividades e toda a documentação aponta para um grande número de populares que inclusivamente se deslocavam de locais bastante remotos para prestar homenagem ou agradecer alguma dádiva desta entidade.

Considerando que a devoção de São Gonçalo está fortemente ligada à localidade de Amarante, poderíamos questionar os padres que serviram Covelas para perceber se algum deles era próximo desta região e se terá trazido este culto até aquela freguesia. Recordo que antigamente não havia redes sociais e a evolução das práticas e paixões era concretizada através destes conhecimentos.

A título de exemplo na Trofa, as festas de Nossa Senhora das Dores só se realizam graças ao trabalho do Abade Pimentel que trouxe consigo este culto para a região e fez com que, no século XVIII tirassem algum protagonismo às festividades com maior pujança na Trofa que eram as festividades em honra do Espírito Santo.

Parece ter sido decisivo o final do século XIX, concretamente o ano de 1893, para estas festividades, até porque na sua fachada se refere que essa data que foi seguramente a concretização de uma grande mudança que se traduziu num maior número de fiéis e num maior brilho das festividades.

Muitos de vocês, certamente não conseguem imaginar o mês de janeiro sem esta festividade, numa salutar combinação entre o profano e o católico em que o povo acolheu este seu ícone e traduziu estas festividades num dos expoentes de bairrismo, paixão e sobretudo de dedicação à sua terra.

Poderia e deveria existir um trabalho de valorização profunda, através de investigação histórica, para tentar enquadrar este evento religioso, que é tão nosso, tanto no plano histórico como no plano sociológico, e que enche de orgulho o nosso concelho.

Por fim, deveria fazer-se das festividades em honra de S. Gonçalo uma das imagens de marca culturais do nosso concelho.

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