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Edição 620

Literária Mente: Por Abril: A minha utopia

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Nasci no dia 24 de abril, precisamente no meio do dia internacional do livro (23) e do dia que assinala os aniversários da nossa revolução dos cravos. O dia da liberdade (25).
E é por isso que, desde há muito tempo, sinto que estou impelido e destinado a provocar revoluções, ruturas, através do livro. Ou seja, através da escrita, através da palavra.
Nesta semana muito especial, decidi falar sobre abril, sobre o significado que a revolução tem para mim, apesar de não a ter vivido e, sobretudo, sobre os pensamentos que abril me causa.
Talvez o ponto mais importante de todo este jogo de significados tem a ver com a ideia de liberdade. Se antes da revolução vivíamos num extremo do espectro da liberdade, olho para a sociedade portuguesa atual e sinto que vivemos no outro extremo. É verdade que, teoricamente, podemos fazer tudo. Podemos pensar tudo e podemos dizer tudo. Se existe a lei para regular e fiscalizar algumas ações e atitudes, a verdade é que não o podemos fazer a tudo o que se diz e o que se faz. Afinal, é esse o significado da ditadura.
O problema não será a falta de fiscalização. Com isto, critico veementemente todas as formas de opressão, de ditadura e de manipulação da mente humana. No entanto, critico… as próprias pessoas. A maioria da população não tem a verdadeira noção do significado do 25 de abril. Podem cantar e partilhar Zeca Afonso, podem colocar fotos de cravos nas suas redes sociais, mas, no final das contas, não valorizam a sua liberdade. Não valorizam porque acreditam que está tudo bem, porque não se questionam, porque acham que bastou os capitães de abril deitarem abaixo um regime ditatorial para que a sociedade entrasse nos eixos. Não bastou. Temos todos de fazer o nosso trabalho para alimentarmos a nossa liberdade.
Porque o grande problema não é a falta ou a presença de liberdade. É o que fazemos com ela. Fará sentido que, depois de uma luta tão grande, de tantos anos subjugados a uma ditadura, agora tomemos a liberdade como garantida e sejamos humanos e, sobretudo, cidadão desinformados, despreocupados, pensando que basta entregar “a pasta” a meia dúzia de iluminados para que possam gerir a nossa vida, os nossos direitos e deveres, o nosso dinheiro, sem que nós não tenhamos que fazer nada? Mas que ideia de liberdade é esta?
É falaciosa. Estamos enganados. Não somos livres. As desigualdades continuam a existir e, sobretudo, a crescer. Os pobres, mais pobres. Os ricos, mais ricos. E, de uma maneira geral, nós estamos de bem com isso. Porque somos livres. E partilhamos músicas e cravos nas redes sociais, e falamos de abril aos nossos amigos e conhecidos. Mas o que somos é uma sociedade inapta, calada e despreocupada.
Sonho em ver Portugal (e o mundo!) ativo, com um povo (que é e será sempre o nosso maior recurso) atento, pensador, que reflete e está sempre pronto a defender os seus interesses. Um povo que lê, que se junta e conversa em cafés mas com significado, com um objetivo, que não esmoreça perante as dificuldades. Um povo que tenha a noção de que a palavra e a ideia são as armas mais fortes que existem, mais que um míssil, ou uma bomba. Um povo que se una em prol de um objetivo maior e geral – a felicidade – e que nunca perca de vista esse objetivo. Bastam algumas pessoas para mudar o mundo. Mas precisamos do mundo para que o mundo não deixe de ser o mundo. E essa… é a minha utopia.
Literariamente, estamos conversados.

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